Universo do choro

qua, 18 de setembro de 2013 • 13:42 • Cultura

“Matriz da música brasileira”. O menino que cresceu nas rodas de choro no quintal de casa define o ritmo exatamente assim. Maurício Carrilho nasceu em uma família que respira música e desde muito cedo fez do violão seu amigo inseparável. Incentivado pelo pai Álvaro e o tio Altamiro, sempre viveu para o choro. Fez parte de alguns conjuntos, gravou CDs e viajou pelo mundo difundindo o gênero. 
 
A história do garoto que trocava o futebol na rua pelo estudo de violão é descrita por sua imersão no universo do choro. Tanta paixão, dedicação, o levou a criar com alguns amigos a Escola Portátil, um programa de educação musical voltado para a capacitação e profissionalização de músicos por meio da linguagem do choro.
 
O projeto que começou como uma grande roda de choro com 50 alunos no Rio de Janeiro acabou de completar 13 anos nesta semana (segunda-feira, dia 16). Hoje em dia, a escola funciona dentro da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro), é patrocinada pela Petrobrás, capacita 1200 músicos e até já tem uma unidade na Holanda.
 
É com esse repertório que aporta em Leme para a realização da III Semana Seu Geraldo, entre os dias 20 e 26 de outubro. Um momento em que a cidade respira e tem contato com grandes músicos do choro, além de evidenciar Leme para o mundo. O festival traz para a cidade cursos, apresentações e o mundo do choro. Na entrevista a seguir, Carrilho apresenta a escola e o panorama do gênero no Brasil.
 
Qual a origem do choro?
Maurício Carrilho: Nasce de um abrasileiramento de danças de salão europeia. A estrutura básica do choro vem da polca, valsa... Na primeira metade do século 19, essas danças vieram para o Brasil e foram intensificadas com a chegada da família real ao país. O Rio de Janeiro se transformou em um polo de circulação de cultura e as danças foram aprendidas pelos mulatos, negros, mestiços, que acrescentaram a elas uma ginga, rítmica, influenciada pela música africana, toque de tambores, candomblé e forma sentimental dos índios. O choro nasce dessa misturada toda. A forma é a música europeia e o swing, herdado dos índios e africanos, principalmente.
 
Quais as etapas de modernização do choro? Como era o choro quando surgiu e como é hoje?
MC: É uma música que está em contante evolução, mas que preserva elementos que já estavam presente no início da sua história. Ela não nega sua origem. Nasceu no Rio de Janeiro, entretanto ainda no século 19 já estava espalhada por todo o Brasil. Foi a primeira música a ser praticada em território nacional, antes mesmo do samba. É a matriz da música brasileira, o choro é a base para o nascimento de outros gêneros, como o Frevo e até mesmo a linha melódica do samba. Hoje tem muitos músicos que muita gente não sabe, mas gosta de choro, como Lobão e Zélia Duncan.
 
Como vê a questão da valorização do choro hoje em dia?
MC: A gente vive um momento privilegiado do choro, com muita gente jovem tocando bem, compondo. Temos a Escola Portátil, a gravadora Acari Records (gravadora especializada em choro), os festivais e a Semana Seu Geraldo. Trata-se de uma opção ao massacre cultural imposto pela mídia. Várias expressões culturais estão sendo dizimadas. Luto justamente contra isso.
 
Caminho de perpetuar o choro é a Escola Portátil de Música, do qual é um dos criadores. Como ela surgiu?  
MC: No dia 16 de setembro de 2000, acontecia a primeira aula.  As inscrições foram abertas na Funarte, tínhamos 50 alunos. Não havia preparo, prática pré-determinada, na verdade, fizemos uma grande roda de choro, bem informal. Depois fomos convidados a dar aula na UFRJ, como curso de extensão e passamos para 150 alunos. Foi quando o Hermínio Bello de Carvalho, com sua visão cultural positiva, percebeu que a abrangência do nosso trabalho podia ser ampliada. Ele fez um projeto que foi enviado e aprovado pelo Ministério da Cultura – aliás, foi ele quem deu o nome de Escola Portátil. Recebemos a ligação da empresa El Paso querendo nos patrocinar e conseguimos alugar uma casa na Glória. O número de alunos chegou a 250 nessa nova etapa.
 
Qual a realidade da escola atualmente?
MC: Somos patrocinados pela Petrobrás, estamos dentro da Unirio, temos 37 professores e 1200 alunos, destes 12% bolsistas. O projeto não é elitizado, temos portas abertas para os menos favorecidos. Além disso, temos um núcleo em Roterdã, na Holanda, onde acontece iniciação com crianças a partir dos ritmos básicos do choro. Temos ainda a ideia de firmar Leme como a “Morada do Choro” e como uma unidade da Escola Portátil. A cidade tem tradição forte na música.
 
Realização: Instituto Casa do Choro, Governo de Leme e Secretaria Municipal de Cultura e Turismo.
Copatrocinadores: Madeiranit, Sesc São Carlos, Hausen Bier, Terra Vista Empreendimentos e Faculdades Anhanguera.
Apoio Cultural: EPTV e Rádio Cultura.
Apoio: Leme Armazéns Gerais, Caixa Econômica Federal, Rivera Móveis e Infibra. 
 
Fonte: Rafaela Chignolli/Secom

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